Sobre a pedra rugosa descansavam, como suspensas, duas tábuas que se cruzavam formando quatro ângulos rectos. Nas extremidades de cada uma das tábuas estavam pousados vários objectos, terra, frutos, um recipiente com água, já estagnada pelo tempo.
Permaneciam em precário equilíbrio, semibalançando ao sabor do vento. Contudo, este equilíbrio só se tornava possível pela presença de uma pequena flor, estranha mas bela, que caía com suavidade no ponto certo do cruzamento entre as tábuas, permitindo-lhes não desabar e, portanto, não estragar o belo quadro de natureza formado e construído ao longo dos anos.
Ao início, a doce flor caíu docemente, naturalmente sobre as tábuas, mas com o passar do tempo, começou a sentir que gostaria de florescer noutras direcções. No entanto, se o fizesse, logo todo o quadro seria arruinado e todos os elementos nele presentes pereceriam. A pequena flor parecia consciente do papel que desempenhava nesta dinâmica e durante muito tempo permaneceu imóvel e botão sem flor.
Sem ter desabrochado, um dia a vida da bela flor chegou ao fim, e caíu plácida e lentamente no chão, desfazendo-se em pétalas coloridas.
Foi então que, quando se esperava a tão temida catástrofe, nada aconteceu... de facto, no momento da queda, quando as pétalas começaram a voar, uma por uma, um pequeno ramo tivera já crescido e encontrado novo ponto de equilíbrio, no momento em que os elementos se encontravam, também eles próprios, livres para se equilibrar.
Contrariamente ao esperado, nada aconteceu, a importância da pequena flor como fonte de todo o equilíbrio não era mais do que uma ilusão. Nada aconteceu, a não ser a despedida da pequena flor, que morrera sem sequer ter florescido.

"The Scales of the Human Soul", Drora