
domingo, dezembro 25, 2005
domingo, novembro 13, 2005
Sara não morrera. Nada podia ser mais verdade. E no entanto, nada podia ser mais mentira. A linha era na verdade bastante ténue, fazendo relembrar a indefinição aparente entre mar e céu em manhã enevoada. A verdade e a mentira misturavam-se, enciumadas do casal água e azeite, assim tal como a vida e a morte. Nisto pensava a rapariga de cabelos longos, meio indefinida ainda na vida. Tão indefinida que não me permitiria recordar-lhe o nome. Será que importava? Talvez sim, mas agora a vontade é de que não tenha alguma e qualquer importância.
Na escada, sozinha, pensava em como Sara não morrera, no verdadeiro sentido da palavra, mas se encontrava quase morta dentro de si. Quase. Quase, pois sabia que, no fundo, nunca morreria. Estaria sempre presente na sua mente, para a relembrar a ela, rapariga dos olhos meigos e tristes até ao limite, daquilo que hoje não tinha. Daquilo que um dia teve, mas hoje não tem...
Há alturas na vida em que se não pode estar sozinho. Está-se, mas sabe-se que se não pode estar, e até nem se está. Só quando se está realmente, se sabe que antes não se estava. Sozinho.
Agora sabia que Sara não morrera, pois lá estava ela, com aquele seu rosto tão igual ao seu, com os mesmos olhos e os mesmos cabelos. Ali tão perto, mesmo no final da rua, tantas vezes percorrida a quatro pés.
No entanto, a rapariga dos cabelos longos levantou-se, descendo devagar os degraus da espera e de tudo o que vale a pena. Deixou os olhos meigos encherem-se de amargura e virou as costas andando na direcção oposta à do final da rua. Desde aí caminhou sempre sozinha e a rua passou a ser percorrida apenas a dois pés.

sexta-feira, novembro 04, 2005

terça-feira, outubro 04, 2005

terça-feira, setembro 20, 2005
sábado, setembro 10, 2005
sábado, agosto 13, 2005

segunda-feira, agosto 08, 2005
segunda-feira, agosto 01, 2005

domingo, julho 17, 2005

quinta-feira, julho 07, 2005
quinta-feira, junho 30, 2005

sábado, junho 25, 2005

segunda-feira, junho 20, 2005

domingo, junho 12, 2005

... depois de "Só Uma Letra":

"Scrambled Letters...", Fotosearch
sábado, junho 04, 2005

domingo, maio 15, 2005

segunda-feira, maio 09, 2005

segunda-feira, abril 25, 2005

quinta-feira, abril 21, 2005
Ad Aeternum
Talvez tivesse chegado a hora de aqui estar mais uma vez… ouvindo a mesma música, a que torna todo o momento no conceito de sempre. Aquela que não deixa descansar, que tumulta e revolve. Que faz pensar no rodopio que danço enquanto olho o céu, em que já não sou eu que rodopio, mas sim o céu em tons azulados pintado de fiapos de algodão. Então o céu mistura-se com a minha boca e sai pelos olhos em forma de lágrimas doces.
Faz lembrar o cemitério coberto de relva e de flores amarelas. Aquelas, as dos campos onde me gostavas de levar a passear. Agora elas alimentam-se do teu corpo e dão-me vida. Sugam-te e transformam-te na seiva que corre. É assim que me dás vida e que te vejo. No rodopio contínuo da música que chega a arrepiar a pele. No ciclo infindável, em que o fim é apenas ilusão, ou tão só uma maneira de suportar a distância intemporal inexistente.
"Surrendering", F. Rassouli
segunda-feira, abril 18, 2005

sábado, abril 09, 2005

domingo, abril 03, 2005

sexta-feira, abril 01, 2005
grab.jpg)
sexta-feira, março 25, 2005

segunda-feira, março 21, 2005

segunda-feira, março 14, 2005

segunda-feira, março 07, 2005
O que importa é a decisão. Depois dela, a estrada é caminho sem retorno. Ponte queimada sobre abismo azulado.
A decisão é o salto. O impulso. O desejo. O não desejo.
Preso pela angústia. Salvo pela não resignação. Condenado à liberdade.
O momento é o movimento no seu quase. Quase... O Medo.
O Terror. A vida que passa depressa por dentro no instante lento do agora.
A gota de suor resvalante oferece o corpo ao desequilíbrio. O corpo balança, o ímpeto faz iniciar a estrada sem fim.
Caminho dolorosamente irretornável... a carne oferece-se à dor já sem medo. Como dizia... a decisão é o salto.
Agora é só a queda sem rede.

"Through the Door of No Return", Film by Shirikiana Aina
... as vossas palavras
depois de "Tempestade de Fim do Dia":
domingo, fevereiro 27, 2005
domingo, fevereiro 20, 2005
Percorre as folhas do livro,
a caligrafia de sangue negro,
com as mãos,
as pontas dos dedos,
a língua...
Dança com as folhas de seda
Degusta cada letra,
prova a entoação,
passeia por entre as linhas
na textura molhada da boca
que prova
o sabor de uma palavra...
Sela o segredo nos sentidos
e cavalga no vento
que não leva o que fica
escrito para sempre.

"Free Light", Rassouli
domingo, fevereiro 13, 2005

"When the rock was sleeping.
The flower said: it was dead!
I never see its movement in all my life."
"Death", Rino
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
sábado, fevereiro 05, 2005

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

sábado, janeiro 29, 2005

segunda-feira, janeiro 24, 2005
Rafael era um rapaz pacato. Tinha poucos amigos, a sua vida era um constante avançar e refluir de casa para o trabalho. Um caminho quotidianamente construído com sorrisos. Sobretudo com sorrisos. Apesar das lágrimas que o espreitavam por entre as fissuras que se iam abrindo na casa, na qual os anos já pesavam. Eram pequenas esferas de água. Espreitantes. Expectantes. Mas Rafael sempre seguia caminho, perdido no seu sorriso, cego para as angústias e dúvidas existenciais.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

"Balance", Zen Azur
domingo, janeiro 16, 2005

sábado, janeiro 15, 2005
Mergulho na escuridão da noite
Nado na humidade alva
Parede eminente
Separadora de mundos iguais
Provo as estrelas que não vejo
Estendo a língua na sua direcção
E apenas bebo o ar frio e húmido
Em rodopios giro sem parar
Desenho na mente o silêncio cantante
Dançando com a noite branca
Absorvo a luz simbiótica
Estendo as asas. Plano.
Sou confusão de nevoeiro
Dissolvo-me, enfim, no amanhecer.

"Misty Moisty Morning", S. Chambless
segunda-feira, janeiro 10, 2005

quarta-feira, janeiro 05, 2005
As lágrimas interiores, presas, desbragadas. O corpo não existe para além de mim. Para lá de mim. O corpo não se vê. Encanta e cega. O corpo brilha, sente e sabe que mais ninguém vai sentir. Mas hoje é para mim. Hoje resguardo-me, apesar de nua. Com o dedo vagarosamente abro um caminho no lençol, o caminho que nunca construi e que não vou percorrer. Hoje percorro-o por dentro, no corpo cheio de alma. Construo um cruzamento para que me possa perder. Um lugar sem horizonte. Neste leito, neste rio de doçura que corre entre as madeixas revoltas e que grita sem ser ouvido. Entrego-me sob o manto do lânguido abraço do leito. Só para mim, apesar de ter retirado o escudo de sempre. Para sempre. E mais uma vez sou percorrida pelo eterno raio de luz e sombra, o mesmo espasmo do peito, a mesma matéria que só pode ser mesmo mais do que isso. Que não me pacifica, mas encanta. Hoje é só para mim. Esta noite sou suspiro lânguido e doce…

"Nude Under White", C. Bolan