Branco sobre Branco
O corpo, curvo e sem pele, permanece sentado. Imerso na alvura que consome, no branco insistente. Talvez infinito. Ou ainda cheio de nada. O branco pode ser insistente. É assim a dor. Branca.
Os pés não têm asas, as que pediu outrora emprestadas há muito se foram, incrédulas, desiludidas e desrespeitantes.
O tempo consome o branco. E o branco consome o tempo. A dor é como o sempre tempo presente. Nunca passa, ao mesmo tempo que já passou.
Penso no que restará quando terminar o processo mútuofágico. O tempo pára quando se inventam palavras. Mas não o suficiente.
Passado o tempo infindável, o branco torna-se então cada vez menos branco, apesar da luz ser a mesma e o espaço ser identicamente o mesmo. A tonalidade escurece.
Talvez seja a figura curva e em carne viva, ensaguentada, que não é a mesma. As órbitas onde outrora moraram olhos, já não são as mesmas. Os sentidos não são os mesmos e então podem enfim captar uma superfície menos alva através da podridão interna que tolda os sentidos e os torna sempre mais turvos.
Por momentos há também o azul. E tudo se torna azul e frio. Até o branco se tornou azul.
O corpo sem pele é consumido pelo frio. Pelo branco. Pelo frio. Pelo branco. Pelo frio...

"Whiteness in Decay", Regina Frank
O corpo, curvo e sem pele, permanece sentado. Imerso na alvura que consome, no branco insistente. Talvez infinito. Ou ainda cheio de nada. O branco pode ser insistente. É assim a dor. Branca.
Os pés não têm asas, as que pediu outrora emprestadas há muito se foram, incrédulas, desiludidas e desrespeitantes.
O tempo consome o branco. E o branco consome o tempo. A dor é como o sempre tempo presente. Nunca passa, ao mesmo tempo que já passou.
Penso no que restará quando terminar o processo mútuofágico. O tempo pára quando se inventam palavras. Mas não o suficiente.
Passado o tempo infindável, o branco torna-se então cada vez menos branco, apesar da luz ser a mesma e o espaço ser identicamente o mesmo. A tonalidade escurece.
Talvez seja a figura curva e em carne viva, ensaguentada, que não é a mesma. As órbitas onde outrora moraram olhos, já não são as mesmas. Os sentidos não são os mesmos e então podem enfim captar uma superfície menos alva através da podridão interna que tolda os sentidos e os torna sempre mais turvos.
Por momentos há também o azul. E tudo se torna azul e frio. Até o branco se tornou azul.
O corpo sem pele é consumido pelo frio. Pelo branco. Pelo frio. Pelo branco. Pelo frio...

"Whiteness in Decay", Regina Frank