quinta-feira, agosto 24, 2006

Esquecimentos

Esqueci o sonho, o relâmpago, o trovão,
a chuva, o vento assobiante até mais não.

Esqueci o sol, o vento, os passos,
as lutas por dentro, as letras em laços.

Esqueci o prazer, a viola, a melodia,
e também o sempre eterno presente que se adia.

Numerosas noites adormeci sem pensar
que a Alma e o dentro poderiam perdurar.

Assim esqueci tudo aquilo que me rodeia
Fugindo, perspicaz, à complexidade de uma teia.

Esqueci hoje o dia, esqueci-me de olhar.

Esqueci de escrever, esqueci de respirar.

E assim, aflita, para que continuasse a viver
Foi preciso que chegasses e não me fizesses esquecer.

sábado, agosto 19, 2006

Pés"Floating Feet", M.Bannet


Olho para os pés... a curva acentuada, filha dos passos desnecessários que persistem na memória, torna-os curvos e esguios, conferindo-lhes um aspecto quase frágil. É aqui que persisto, que a luta contra a gravidade se torna a luta incessável dos dias que morrem em fila, ordenados. Olho os pés como quem olha uma escultura. A forma da carne, dada pela maneira como se veste nos ossos, parece esculpida por uma história de passos. Os que foram dados, e tantos que ficaram por dar. Contemplo. É quase como se o olhar pudesse quebrar tanta fragilidade... E no entanto é a fragilidade que segura e suporta, a fragilidade de um pilar. Gostarias de aparentar fragilidade e, ainda assim, ser pilar?...